29/05/14 JY geotecnologias
Segundo Rafael Nunes, Eng. Agrônomo, Recife , “a algarobeira tem sofrido restrição principalmente com referência a três aspectos: que mata os bovinos, que “puxa” muita água do solo e que é desertificante devido ao fato de não vegetar outro tipo de planta onde ela está ocupando (notadamente onde se encontra muito adensada). Ao observarmos as atitudes das pessoas que se referem aos “perigos” da algarobeira tem-se a impressão de que se trata de uma verdadeira histeria.Ao se analisar bem, chega-se a conclusão de que na verdade há um grande exagero e que não há nenhum motivo de maior preocupação. Ela realmente pode chegar a causar a morte de bovinos, se for fornecida a estes como alimento exclusivo. O absurdo consiste no fato dos criadores não se preocuparem em produzir qualquer outro alimento para que a vagem da algarobeira seja fornecida como o concentrado que ela realmente é. Deve ser fornecido aos bovinos alimentos volumosos como silagem, feno, palma, mandacaru, macambira, agave e qualquer outro produto como capim seco, cambão de milho desintegrado, etc”, completou.
Quanto a visão do pesquisador da Embrapa Semiárido, Clovis Eduardo, a degradação da caatinga é que facilita a invasão da algarobeira no sertão. Nas áreas onde o ecossistema natural está preservado, a espécie, que é exótica, não consegue se dispersar de forma indiscriminada e ocupar o espaço da vegetação nativa, mesmo nos locais mais úmidos, a exemplo das áreas de matas ciliares e de galerias. Esta é uma das conclusões da tese de doutorado – “Comportamento invasor da algarobeira (Prosopis julifora) (Sw) DC. nas planícies aluviais da caatinga” – defendida este ano pelo pesquisador Clóvis Eduardo de Souza Nascimento, da Embrapa Semiárido, junto ao Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco.
Neste estudo, ele analisou o comportamento da algarobeira em 10 áreas dos municípios de Petrolina e Dormentes, em Pernambuco, e Juazeiro e Jaguarari, na Bahia. Em cada uma delas, coletou informações de três ambientes contínuos, a partir da margem de rio/riacho, que o pesquisador nominou de planície aluvial, terraço aluvial e platô. Ou seja: de um ponto de maior umidade para outro mais seco.
Agressiva – Para Clóvis, a presença dessa planta por todas as zonas agroecológicas do semiárido brasileiro registra o mais grave fenômeno de invasão biológica de uma espécie exótica sobre a vegetação da caatinga. A agressividade desta invasão pode ser observada em extensas áreas de “baixios”, principalmente, nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco e Bahia. Nestes locais, o denso povoamento de algarobeiras domina a paisagem. O que se vê é a presença quase que exclusiva de indivíduos dessa espécie.
O pesquisador destaca que os estudos sobre a algarobeira precisam abrir perspectivas de uso racional da planta nos sistemas agrícolas e mesmo em processamentos industriais, ou ainda estabelecer estratégias de manejo a fim de inibir sua característica invasora. Atualmente, são estimados 500 mil hectares ocupados por indivíduos dessa espécie no semiárido e sem qualquer estimativa de quanto dessa área corresponde a plantios efetivamente feitos por agricultores ou à dispersão por meio de animais, sem controle algum.
Útil – Uma área deste tamanho ocupada espontaneamente por indivíduos de uma mesma espécie só mostra o quanto está adaptada e estabilizada no ambiente. E, embora localizada em ambientes ciliares, considerados como Áreas de Preservação Permanente – APP, o corte puro e simples para permitir a recomposição da vegetação nativa é algo totalmente fora de cogitação. A algarobeira tem muitas qualidades agrícolas. Além de ser importante como forrageira, as vagens das plantas se prestam para vários fins na alimentação humana, à partir da confecção de farinha, bolos, biscoitos, café, geléia, licor, cachaça e vinagre.
No semiárido, costuma ainda ser utilizada como produto madeireiro (mourões e estacas para cercas) e energético na forma de lenha e carvão, que são muito utilizados nas propriedades rurais. Em tempos recentes tem sido empregada em setores econômicos que, nas áreas urbanas do semiárido, fazem uso de fonte energética vegetal (padarias, pizzarias, churrascarias, curtumes e outras indústrias). É uma planta de muitos recursos que precisa de estudos para ganhar sustentabilidade no semiárido, explica Clóvis.
Barreira natural – Na tese de doutorado, o pesquisador realizou investigações para explicar uma lacuna presente em grande parte dos estudos acerca da invasora: o seu desenvolvimento nos ambientes de “baixios”. Uma constatação sua foi o estado de depredação da caatinga. “A vegetação ciliar dos afluentes do rio São Francisco, que corta os sertões nordestinos, está quase eliminada devido à exploração extrativista. As terras de fundo dos vales, melhores para fins agrícolas, são as mais atingidas”.
Esse cenário de degradação da biodiversidade da caatinga é que abre caminho para a dispersão da algarobeira, em especial nas áreas de maior umidade, explica Clóvis. Isto está bem documentado na sua tese: nos locais mais próximos ao leito de riachos e desprovidos de mata nativa foram registrados maior população da espécie exótica. À medida que o pesquisador deslocava sua observação para pontos distantes dos riachos, portanto, mais secos, menor foi a presença de plantas de algarobeira, não afetando, dessa forma, a riqueza e diversidade das espécies nativas, mostrando a dificuldade da exótica para invadir ambientes mais secos e com a vegetação em estágio avançado de sucessão.
Para ele, aí está uma evidência de que a algarobeira não irá invadir o bioma caatinga de forma indiscriminada. O estresse hídrico é uma barreira natural à sua proliferação desordenada por grandes áreas parte do semiárido. Entretanto, somente nos ambientes degradados e com a vegetação em desequilíbrio, nas zonas agroecológicas com maior umidade, a planta exótica entra em competição acirrada com as nativas provocando a morte de muitas delas. Espécies que foram testadas em competição com a algarobeira: mulungu (Erythrina velutina), alagadiço (Mimosa bimucronata), caatingueira-rasteira (Caesalpinia microphylla), pau-ferro (Caesalpinia ferrea) e jurema-preta (Mimosa tenuiflora), mostraram diminuição da altura, do diâmetro do tronco e da área foliar, com o aumento de mortalidade dessas nativas.
Manejo – As espécies pau-ferro e jurema preta tiveram um comportamento que, para o pesquisador, que pode ser melhor aproveitado em ações de recomposição da vegetação original nas áreas invadidas. As duas foram as que menos morreram e mais cresceram, na competição com a algaroba. Na tese, o pesquisador propõe aos agricultores monitorar as áreas invadidas. Para controlar a disseminação desordenada de indivíduos dessa espécie, pode se recorrer a capinas e podas ou, ainda, à aplicação de herbicidas seletivos nas plantas ainda pequenas.
A aplicação de produtos químicos surte o efeito de controle se aplicados no período de maior sobrevivência e esperança de vida que é de 75 dias em locais de maior umidade. O agricultor pode ainda processar as vagens para produzir forragem (torta e farelo) e evitar o pastejo de animais nas áreas invadidas, para conter a disseminação e o aumento populacional de Prosopis juliflora.
Fonte: Marcelino Ribeiro – ES